A violência estética da política: Quando o Parlamento vira palco de testosterona e ignorância

Deputado Glauber Braga agride militante do MBL

É de uma estupidez barroca assistir à cena de um deputado chutando um sujeito como se estivesse marcando território numa calçada — como se a Câmara, aquela que deveria ser a casa da palavra e do debate, tivesse se tornado palco de testosterona vencida. Glauber Braga, do PSOL, chutando um integrante do MBL, e depois em um balé grotesco de empurrões com Kim Kataguiri, me lembra menos um embate político e mais uma briga de bar na qual ninguém sabe exatamente por que está brigando, só sabe que precisa gritar mais alto, bater mais forte, vencer no grito porque perdeu no argumento.

Que vergonha para o ofício da política. Que vergonha para quem ainda acredita na possibilidade do diálogo.

A violência ali não é só física — é estética. É o colapso do símbolo. Quando um deputado chuta alguém na Câmara, ele chuta também o pacto social, escarra no sentido do Parlamento e rasga o papel do Estado. E o pior: há quem bata palma. Há quem ache bonito. Há quem deseje ver mais disso, como se a violência fosse entretenimento ou instrumento legítimo de convencimento. A brutalidade vira performance, e a Democracia, essa senhora já cansada e maltratada, vira piada num grupo de WhatsApp.

Eu fico pensando se algum deles dorme em paz depois disso. Se depois de trocar empurrões e ofensas, ainda têm a pachorra de se dizer representantes do povo — esse mesmo povo que apanha da polícia, que não tem escola decente, que sofre violência real todos os dias sem direito a chute de volta. Quando a violência se normaliza na tribuna, ela se espalha como mofo pela cidade inteira. Ela autoriza. Ela contamina.

E no fim, o que resta? Uma república que tropeça nos próprios pés enquanto os homens, crentes de suas causas, batem no peito como se fossem heróis de um filme barato.

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